Cela n.º 1049 da prisão n.º 57
- Entre.
A voz fria do polícia ressoou nas paredes cheias de inscrições, palavras de desespero, vingança, saudade, dúvida, um pouco de tudo estava representado naquelas paredes que, aos olhos de um estranho, não passariam de muros riscados por vândalos – como os que, sendo inocentes, escreviam nas pareces da prisão.
Mandaram-na entrar numa cela. Dois beliches, um lavatório e quatro paredes cobertas de sentimentos. Na penumbra de uma das camas estava uma senhora, já bastante velha, que roía as unhas, até fazer sangue... Em bicos dos pés, tentando espreitar pela janela, estava um rapaz aparentando ter sete ou oito anos, muito empenhado em conseguir ver alguma coisa lá para fora, mas aparentemente sem grande sucesso.
Dois meses passaram... Na cela n.º 1049, da prisão n.º 57 reinava o silêncio. Nunca ninguém falava na cela n.º 1049. A avozinha passava o dia todo a roer as unhas e quando já não tinha unhas ficava a olhar para o colchão que se encontrava por cima dela; o netinho não fazia outra coisa se não verificar que não tinha crescido grande coisa nos segundos precedentes, visto que nunca mais conseguia atingir a janela.
À hora da refeições um guarda vinha buscá-los. Nessa altura a avó deixava de roer as unhas, levantava-se devagar e chamava o neto que num pulo se voltava, com os olhos cheios de esperanças.
- É agora avó? Vamos embora?
E a avó respondia com um tom de tristeza na voz:
- Talvez, meu Querido. Talvez...
E o rapaz saía sorridente da cela, olhando com os seus olhos de criança a cara de um adulto que lhe abria a porta para a liberdade, ou simplesmente para a cantina.
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