01 July 2005

Afinal para que serve um teclado de computador?

Vi no outro dia um anúncio na net em flamengo em que constavam dois teclados, um por cima do outro, e quando se abriam percebia-se que estavam a ser usados como uma máquina para fazer gaufres. Achei piada, mas não cheguei a perceber do que se tratava visto que estava numa língua que me é desconhecida.

Há uns meses este computador estava inutilizável, já nem sei muito bem porquê, provavelmente porque o meu irmão já se tinha deitado e eu não podia fazer barulho ou porque o Pai instalou alguma coisa nova, ou estava a gravar algum CD. Como disse, o computador Branco, é assim que lhe chamamos devido à sua cor, na verdade até é bege, estava inutilizável e tive portanto de recorrer ao outro computador, o Preto, o da sala.

O ecrã abriu com o habitual símbolo do Windows XP sob um fundo azulão, até aparecerem os nomes dos utilizadores, um deles, o meu. Qual não foi o meu espanto quando vi que o Rato não funcionava, este deve ser a única espécie de rato que uma mulher vê sem começar aos saltinhos e aos gritos e afins, tentei portanto entrar usando o teclado. Carreguei naquela tecla engraçada com duas setinhas uma para cada lado, não me perguntem o nome dela porque nunca fomos apresentados, que está mesmo por cima do Caps Lock. Pois, é que há teclas inteligentes que gostam de mostrar como se chamam em vez de nos deixar olhar para elas com cara de parvo a tentar decifrar o simbolozinho que elas decidiram usar. Dizem que é linguagem universal, que é mais fácil de perceber, mas depois não sabemos como é que lhes havemos de chamar. Quem é que havia de pensar em chamar Enter a uma tecla rectangular com uma prótese do lado esquerdo, que usa uma setinha a vir de cima que faz um ângulo recto para finalmente decidir virar para a esquerda? Porque é que não impuseram logo uma vestimenta com Enter escrito? Isso evitar-nos-ia as confusões.

Vai na volta acho que até sei o nome dela, a tecla engraçada com duas setinhas uma para cada lado, será que se chama Tab? Possível... Bom de todas as maneiras a Tab devia estar de férias na mesma ilha que o Rato. Tentei então a famosa combinação Ctrl+Alt+Delete, dizemos Control mas o verdadeiro nome dela é Ctrl, a coitada deve ter um complexo “Mas ‘tá aqui escrito nabo! Eu chamo-me Ctrl! Control!? Aprende a ler paspalho!”, mas as três teclas decidiram adiar o ménage a trois e deixaram-me pendurado. Já estava a ficar preocupado quando me lembrei que o meu adorado Pai tem a mania de usar o ecrã do Preto, pois é de cristais líquidos, só come daquilo desde que é pequenino, é por isso que é tão magro, qual quê ecrãs gigantes com mais de 50 cm para trás, a nova moda, tanto nas mulheres como na tecnologia, é ser fino! E pequeno..., mas isso já é outra história, porque eu não conheço ninguém que vá pagar mais por um ecrã mais pequeno e o mesmo se aplica a uma mulher.

O meu Pai gosta de poupar o Portátil, que por acaso também é preto, e por isso liga-o ao ecrã, teclado e rato do Preto. Ora por isso mesmo é que o teclado e o Rato me tinham virado as costas, porque o Pai tinha-os deixado programados para trabalharem só com o disco rígido do Portátil. Percebida a origem do problema resolvi imediatamente a questão carregando num botãozinho de uma caixa que o próprio Pai instalou. É que a maior partes das pessoas tem um amigo que percebe de computadores. Eu sou filho de dois engenheiros informáticos. E o que percebe de computadores e que desde pequenino gosta de desmontar coisas “Mãe já posso desmontar o carrinho?” ao ponto de um dia rebentar com a electricidade de uma cidadezinha inteira, é o meu Pai. Durante muito tempo pensei que aquilo que ele fazia com os computadores era cultura geral e que um dia também eu saberia desmontar aquilo tudo para fazer sei lá o quê com a ventoinha que faz demasiado barulho, mas rapidamente me apercebi que não era assim fora da minha casa e que a Mãe não sabia desmontar o que quer que fosse, como eu. Deixei para trás as minhas preocupações quando fiquei a saber que havia pessoas, menos competentes que o meu Pai, claro, que instalavam os softwares iniciais e ligavam a torre ao ecrã, ao rato e à forma de gaufres, sem nos termos de preocupar senão com a conta.

Fico então perplexo... Porquê? Porque é que entrei em pânico quando o teclado não respondeu, quero dizer, ele nunca me disse nada, mas mesmo assim esperava reacção da parte do seu tradutor, o senhor ecrã slim and fit. Porque é que de repente a forma de gaufres muda passou a ser o meu problema central?

E os vírus? Eu acho que alguns informáticos têm mais medo dos vírus de computador do que um vírus que os ataque a eles. Qual é o problema dos vírus, se há gente que invente os antibióticos? Será que os informáticos ficam com medo que o computador fique com os dentes amarelos? Pois é, coitadas das teclas, têm lá culpa daquilo que os utilizadores andam a fazer na teia... E de um dia para o outro, as coitadinhas, aparecem amarelas. Aí até sou capaz de perceber, é claro que ninguém quer ter um computador bege com as teclas amarelas, estraga logo o design da coisa, fica mal, não liga com o tecto do quarto...

Mas porque é que nos preocupamos com o facto do Rato funcionar ou não? Coitado do bicho, dêem-lhe viagra! E do teclado não responder? O Dunga também nunca falou e não foi por isso que os outros seis anões ficaram preocupados... Chego a uma conclusão... A nossa sociedade já não sabe com o que se preocupar e arranjou uns bichinhos de estimação, a que chamou computadores, para se divertir. Até eu me surpreendo a falar com os meus, “Vá despacha-te! ‘tás lento ou quê?”, “Vá lá meu querido não encraves agora, por favor!”Patético.

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