22 October 2005

Sábados

É neste momentos que a vida é mais estranha. Nos Sábados, em que o tempo parece não querer passar. Sinto-me rabugento, sem vontade de fazer nada. Deambulo pela casa à procura de algo para fazer e afinal apercebo-me que todos os sábados fazem parte de um único dia, que se reparte pelas semanas. É um dia fastidioso (palavra gira não é?) em que não se faz nada, as horas são lentas e o corpo parece não obedecer completamente à razão... O cérebro diz que temos muito que fazer, mas na verdade não lhe apetece fazer nada. Então resigna-se. Ao nada. E o nada é estranho. Quantas vezes não me surpreendi a pensar se me ia ou não lembrar mais tarde deste fastidioso e lento Sábado? Quantas vezes não me surpreendi a pensar que o tempo é tão relativo ao ponto de quase não existir?

Se ficarmos parados sem fazer nada, o que é que se passa? Nada? Mentira, o nosso cérebro põe-se a inventar maneiras parvas para se ocupar, como crianças que não têm nada para fazer que se põem a bater ou a fazer coisas enervantes... Nós, aqueles que acham que são mais que isso, inventam maneiras de se preocupar. “O que é que eu vou fazer amanhã?” “Eh pá e o relatório para segunda-feira? E a porra da reunião!” E nunca mais acaba. Uma coisa leva à outra e o tempo não existente passa até nos apercebermos que a primeira coisa em que pensamos era importante e que já não nos lembramos dela. Andar para a frente todos conseguimos, mas voltar para trás no pensamento parece ser uma qualidade que o cérebro humano n possui. (É giro porque também não conseguimos andar para trás no tempo...) E finalmente apercebemo-nos que durante aquele tempo todo não fizemos nada. O que é uma expressão errada. “Não fazer nada” dupla negação, portanto devia querer dizer fazer alguma coisa... De facto agora que penso nisso a expressão até está certa. Porque o nada não existe! Mesmo em profunda meditação estamos a respirar e respirar não e nada.

Um dos sítios mais apropriados para este tipo de inspirações é ironicamente a casa de banho. Já toda a gente se sentou no trono pelo menos uma vez e se pôs à espera. Ora a espera é o início do nada. E pronto o cérebro dispara com as suas afirmações disparatadas, para nos manter ocupados, enquanto a vontade não vem... É a casa de banho e a cama antes de dormir... Pessoalmente, as minhas crises, costumava tê-las entes de adormecer.
Quantas vezes não fui gozado pela minha Mãe (“e é agora que te lembras disso?”) até perceber que era melhor fazer as crises durante o dia. “Crises existenciais” era como ela lhes chamava. Momentos em que decidimos entrar no mais profundo da psicologia só para adormecer. Brincar com o fogo é perigos e geralmente queimamo-nos. Eu era o remoer do dia. “E porquê? E porque não de outra maneira? E porquê eu?” Tipo vaquinha no pasto deitada de barriga para baixo a remoer a ervinha, feliz da vida. Vai-se lá saber, a vaquinha também se põe a remoer a vida. O que será que uma vaca há-de pensar? Estão a ver? O meu cérebro primário já me levou para um assunto derisório. Na verdade nós só nos queremos é divertir. Uma aula de matemática mal dada é mas é um estímulo para a compra de bilhete para o nada sem bilhete de volta. Até que nos tirem à força da nossa felicidade intemporal... “Fulano, acorda!” O problema é quando não conseguimos dormir.
As insónias de Sábado...

A nossa imaginação deixa de ser suficiente apelativa, visto que passamos a semana refugiados nela... Agora, sábado, precisamos de mais. Precisamos de agitação, de divertimento, de coisas para fazer. Que na verdade devíamos dispensar, visto que estamos cansados. Então vem-nos a grande ideia. Os armários da cozinha. Que estão cheios de compras feitas de manhã, parecem ser a solução para os nossos problemas. Bolachas! Quem não gosta de bolachas de chocolate?! Só a palavra Bolachas, põe água na boca... É bonita não é? A palavra...
Bolachas ao Sábado...