17 January 2006

Olhou pela janela e sentiu o frio lá de fora gelar-lhe o espírito. Afastou-se depressa fechando as cortinas com cuidado para que o calor do aquecedor não fosse dissipado. A máquina de lavar fazia o seu barulho característico e a roupa afogava-se lá dentro. Eram os únicos sons naquele espaço frio.

Nunca ninguém vinha lavar roupa tão cedo. Instalou-se num banco plástico cor-de-laranja. Num dos bancos plásticos cor-de-laranja. Todos eles alinhados numa métrica estupidamente mal enjorcada. Tal como as máquinas, umas mais à frente , outras mais atrás. Eram estes estúpidos detalhes que mais enervavam Cláudia.

Passou a mão pelo cabelo e coçou o crânio. A estúpida da água de casa, demasiado calcária, dava-lhe cabo da cabeça. Literalmente. Provocava-lhe caspa e uma comichão atroz, assim como lhe dava cabo da roupa. Ela girava. Às 5h da manhã a roupa girava numa máquina. Com os olhos, Cláudia seguia o bailado aquático através da superfície plástica transparente.

A campainha da porta tocou e esta abriu-se. Uns sapatos de vela gastos, cabelo preto espintalgado de prata e um sobretudo verde, foram as últimas coisas que Cláudia viu.

Ninguém a procurou, ninguém se preocupou e o homem da lavandaria juntou mais umas peças de roupa esquecidas à sua colecção. "Olha a Mariana vai gostar deste casaco. Não sabia o que lhe dar pôs anos, olha problema resolvido."

6 Comentários:

At 18/1/06 20:21, Blogger Intervencionista disse...

Y, estou como a leitora anterior... tb acho k algo me está a escapar... mas o k aconteceu á Claudia... foi raptada? Morta?

 
At 18/1/06 21:04, Blogger José Pires F. disse...

Meu caro Ipslon!

Hoje é a minha vez. Ehehehe! (esfregando as mãos e colocando um olhar demolidor).

Até ao penúltimo parágrafo, tudo bem. No penúltimo criaste um enigma, pois a Cláudia tanto pode ter sido morta como raptada, e isso teria de ser resolvido no último, mas não foi, só sabemos que não está lá quando o homem da lavandaria chega e também que deixou por lá alguma roupa, incluindo o casaco que trazia vestido.
Das duas uma: Ou deixaste à imaginação do leitor a resolução do desaparecimento, ou não resolveste o Conto.
Evidentemente que me inclino para a primeira hipótese, e a ser verdade, a Cláudia foi raptada depois de ter sido posta inconsciente pelo homem a quem abriu a porta.
Não acho que esteja bem resolvido como disse. A minha dúvida como leitor é considerável e verifiquei que tanto a Clarissa como o Nuno tiveram o mesmo problema.

 
At 18/1/06 22:18, Blogger Ipslon disse...

:D exactament clarissa!!
hehe nem tudo tem de ser dito...

 
At 19/1/06 17:04, Blogger Ipslon disse...

Deixem-me retficar o meu comentario...
é que foi um bocadinho feito à pressa.

o objectivo deste conto e fazer reflectir sobre a importancia que temos e que damos à vida. morre todos os dias montes de gente e ninguem se importa porque faz parte da vida. afinal podemos morrer ou desaparecer a qualquer momento, somos insignificantes.

mas a vida continua "e o homem da lavandaria juntou mais umas peças de roupa esquecidas à sua colecção"

:D se o leitor sabe sempre tudo e nunca tem duvidas n se torna tedioso?

 
At 21/1/06 14:08, Anonymous Anonymous disse...

«A construção implicava um silêncio e um sono em que a origem se mantivesse envolta no polén da sua inocência nativa», como diz A. Ramos Rosa (de quem também gosto tanto - vou conhecê-lo um destes dias, vou visitá-lo ao lar onde se encontra). Havia muito barulho e era difícil suportá-lo, pela abstracção, apenas por aí, e com muito amor, foi possível destruir para construir - destruir as não bonitas e não se esqueçam há muita sujectividade nestas coisas...

 
At 21/1/06 14:11, Anonymous Anonymous disse...

ooops, subjectividade. sic

 

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